As mãos
dizem muito sobre seus donos e podem revelar muitos segredos. Assim acontecia
com as mãos do meu sogro, o Seu Antonio Tarossi, as mãos gigantes contavam para
aqueles que amavam ele de verdade, uma aventura de vida cheia de heroísmo.
Quando a gente olhava para as mãos grandonas dele pela primeira vez logo entendia que ele era um homem com história de trabalhos pesados, eram mãos brutas de um homem que com certeza tinha trabalhado na roça, que tinha carregado peso pesado, arado a terra, trabalhado duro na colheita e caso você amasse ele de verdade, iria concluir que ele era um domador de cavalos em Corumbatai. Ouvi dizer que pessoas que trabalham duro assim, ficam com as mãos gigantonas e que, de vez em quando, as mãos parecem até ter vida própria.
Um dia, as mãos do Seu Antonio ficaram cansadas de domar burros e cavalos e resolveram resolveram vir para São Paulo . Foram trabalhar carregando bandejas em restaurantes para servir senhores e senhoras muito distintas em vários restaurantes, buffets, banquetes, recepções e festas. As mãos do Seu Antonio gostavam muito de um baile e quando possível iam dançar em salões de pessoas de respeito usando sempre um lenço em uma das mãos quando dançava com alguma senhorita.
Quem conhecia as mãos dele de verdade, sabia que elas adoravam servir as pessoas chiques, e, quanto mais chiques melhor. As mãozonas brutas foram aprendendo a servir com delicadeza, adorando quando alguma madame chique se dava mal depois de tratar alguém com descaso e adorando mais ainda quando a gorjeta era boa.
Diz o
folclore que, quando as mãozonas não gostavam do cliente eram
loucas para errar na cobrança, adicionando incidentalmente o número da mesa no
total da conta. Era a esperteza das mãos brasileiras falando mais forte do que
tudo.
Um dia as
mãozonas do Seu Antonio conheceram as mãos faladoras e trabalhadoras da Dona
Janette e logo estavam casadas.
Foi cara
a aliançona que o Seu Antonio teve que comprar para caber no dedo grandão.
Foram tempos de muita dificuldade mas de realizações e crescimento.
Então as
mãozonas tiveram que trabalhar ainda mais duro. Trabalhavam em dois, três e
quatro ou mais empregos quando conseguia e nunca, jamais
descansavam.
As mãos
eram trabalhadoras e quanto mais trabalhavam maiores ficavam. Foram tantas as
bandejas, tantos os banquetes e recepções que acho que as mãozonas estavam
ficando maiores que um mamão.
Não pense você, que lê esta aventura, que as mãos sempre foram grandotonas. Quando eram crianças, as mãos eram pequeninas. Naquele tempo a Dona Anna Friatskovisky, que era da Hungria e também tinha mãozonas grandotas, batia com elas na cabecinha do Seu Antonio menininho e pedia para que fosse ajudar na roça, então, foi assim que tudo começou, carregavam uma coisinha aqui e outra ali, ficando mais fortes e maiores a cada dia que passava.
Não pense você, que lê esta aventura, que as mãos sempre foram grandotonas. Quando eram crianças, as mãos eram pequeninas. Naquele tempo a Dona Anna Friatskovisky, que era da Hungria e também tinha mãozonas grandotas, batia com elas na cabecinha do Seu Antonio menininho e pedia para que fosse ajudar na roça, então, foi assim que tudo começou, carregavam uma coisinha aqui e outra ali, ficando mais fortes e maiores a cada dia que passava.
Acho que o
pai dele, o Seu Gildo, que era um amor de pessoa, mas do clã das mãos
normais, muito boazinhas e que gostavam muito de pirogue. Desde
pequeno as mãos dele acompanhavam de perto as mãos do seu
pai trabalhando e aprenderam com o exemplo a serem guerreiras e
lutadoras e que o trabalho engrandece as mãos.
As mãos
do Seu Antonio com as da Dona Janette tiveram 4 filhas com
mãozinhas (menos uma que as mãos eram um pouco grandes). Queriam ter um
filho com mãozonas, mas Deus não deixou.
Ele
educou suas filhas com mãos firmes e que apesar de calejadas e ásperas como uma
lixa de madeira, ficavam lisas quando estava com elas.
Enquanto
teve suas filhas aconteceu um dos grandes amores das mãozonas dele: a Pirelli. Protagonista de
muitas aventuras na vida das mãos do Seu Antonio, esta foi motivo de orgulho e
admiração.
Nessa
empresa, as mãos dele foram crescendo de cozinheiro a gerente de restaurante.
Acho que as mãos não entendiam direito o valor de mãozonas caipiras terem
enfrentado todas as dificuldades e terem conseguido alcançar um cargo tão alto
sem muito estudo em uma organização tão grande e povoada por vários italianos,
desembargadores, superintendentes, engenheiros, advogados,
e Super Homens, Capitães América, entre
outros que elas tanto idolatravam.
A
verdade, que as mãos do Seu Antonio não sabiam, era que
esses homens com tanto estudo, arrogância e soberbia , não
valiam o dedinho gigante de uma só mão dele.
O
primeiro apertão de mão que recebi do Seu Antonio foi uma sensação
inesquecível, na verdade eu acho que foi um abraço de mão. Primeiro gostei das
mãos da Regina - bem maiores que as minhas - e, depois que eu o
conheci, gostei também muito das aventuras que as mãos dele contavam.
Acompanhei
as mãos dele levarem minha esposa para o altar, depois as Helena e o Hailton e depois
as Cristina com o Ivan. As da Ana não foram levadas, mas
não por culpa delas.
As
mãozonas do Seu Antonio gostavam de jogar tranca com a gente, mas tinha que
ficar de olhos abertos, pois as cartas eram louquinhas para passear entre
aqueles dedões.
Uma
das partes mais emocionantes dessa aventura começa agora, preparem seus
corações pois vou contar como e que as mãozonas faziam com a netaiada.
Cada neto
que foi chegando foi fazendo aquelas mãozonas mais bobas, mais lindas, mais
de vô e mais legais. Com a Bruna elas pararam de beber, mas depois
voltaram. Foram crianças novamente, brincavam, provocavam, viviam fantasias. O
Pedro chegou para que a bebida fosse banida definitivamente da vida delas.
Voltaram a falar, a ser mãozonas crianças novamente, reaprenderam a ver o mundo
com olhos sem censura, a rir de coisas simples.
Chegaram
a Halana e a Heloísa e elas ja sentem o peso da idade e de que
para dar conta de 4 netos precisam da ajuda das mãozinhas da Jane.
E então
chegam umas mãozinhas machinhas do Leonardo e do Murilo, que parecem fazer
reascender a força vital das mãozonas vovozinhas que voltam a brincar como se o
tempo tivesse voltado atrás e rejuvenescido o mundo.
Cada um
de nós teve o amor daquelas mãozonas brutas. Fossem elas mau humoradas,
ranzinzas, faladoras, bravas, tossidoras , faladoras, fumadoras,
....não importa como fossem elas nos amavam de um jeito acho que as vezes
um pouco tosco, mas de forma legitima.
Tenho
certeza que as mãos dele morriam de ciúmes quando o Seu Antonio pedia
para a Regina fazer massagem nos pés dele, mas também tenho certeza de
que logo passava, pois eram elas , as mão que protagonizavam e controlavam
toda a situação , apertando, abraçando e falando, isso mesmo, contanto
muitas histórias.
Com o
tempo as mãos do Seu Antonio eram como uma extensão das mãos do meu pai. Eram
mãos de respeito e de sabedoria, mãos de carinho e zelo.
A
mãos da minha esposa, que também são um pouquinho grandotas (é a segunda
vez que falo isso) , contaram que por muitas vezes as mãos do Seu Pai
ficavam esperando que elas passassem lá na casa delas para almoçar depois das
aulas, e que isso era um sinal de amor tão grande, tão enorme, tão
gigante, que eu acho que comparados com as mãos dele, ficavam
parecendo mini mãos.
Vi as
mãos fortes e lutadoras do Seu Antonio perderem vagarosamente o
vigor, vi com a dor de um filho a dignidade escapando pelos
seus dedos, mas o amor que elas sentiam por nós nunca diminuiu.
Vi as
mãos do Seu Antonio pela ultima vez no hospital na última
sexta-feira A vida delas já estava fraquinha, mas elas me disseram com um
sorriso enorme de alegria: - Você veio?! Você conseguiu chegar?!
Respondi
que sim e contei para ele de um curso que minhas mãos fizeram com mãos
americanas, mas acho que elas não conseguiam prestar atenção em outra coisa que
não fossem meus olhos, dizendo sem nenhuma palavra ou gesto o quanto eu era
amado.
Depois de
algum tempo, segurei a vontade de chorar, abracei o Seu Antonio e falei
para ele que o amava muito e que ele era como um pai para mim. Beijei a careca
dele e me despedi. Ele estranhou um pouco, mas foi minha ultima
lembrança daquelas mãozonas vivas.
As mãos
falam muito sobre que a pessoa, tenho certeza que, de vez em quando, quando as
mãozonas do Seu Antonio puderem e Jesus deixar, virão aqui
segurar as mãos de cada um de nós para nos orientar e nos fazer lembrar de suas
looongas aventuras.
Escrevo
isso em homenagem a um homem que venceu uma quantidade infinita de
dificuldades e mostrou como é importante lutarmos pela vida e
que para mim foi o maior e mais respeitado superintendente da
Pirelli ou de qualquer outra empresa do mundo que já mais
existiu.
Saudades!
Escrito por Cássio Roberto Brigide,
logo após o falecimento de seu sogro: Sr. Antonio Tarossi.
Cássio meu filho, você me fez chorar, talvez de alegria , primeiro por ser uma pessoa tão humana e amar muito todos os seus .
ResponderExcluirContar uma história de vida com tanto amor e carinho é ter mãos gigantes, é viver uma vida inteira voltada para Deus.
Sei também que seu sorriso, seu choro apertado dizem o quanto você conviveu com seu sogro e quanto carinho ao ficar ouvindo
todas essas façanhas da vida dele. Sei também que cada pequena ajuda que você oferece é de coração aberto e cura um coração
machucado pois seu amor é verdadeiro. Quero dizer-lhe mais uma vez(embora vc já saiba) que o amamos muito.
O seu Antonio, lá do céu está te abençoando com suas mãos grandonas cheio de amor pra dar.
Acho também que o papai está feliz ao receber seu Antonio apertando suas mãos. Que Deus te abençoe.
Bel